terça-feira, outubro 31, 2006

Sobre anáguas e valsas vienenses

Alguém pode me dizer qual o sentido de existir festas de quinze anos? Tudo bem que a maioria dos rituais não tem lá grande razão de ser, mas pra mim festa de quinze anos é a prova viva de que o brega — assim como o clássico — nunca morre. Não sou convidada para esses débuts há anos, mas nem na minha época eu achava que usar vestido com vinte anáguas e valsar com todos os homens da família tinham algum sentido. Talvez até fizesse — no tempo da valsa e das anáguas.

Tudo bem, devo confessar: eu tive uma festa de quinze anos. Confesso a Deus Todo-Poderoso e a vós irmãos e irmãs que eu tive uma festa de quinze anos com direito a dois vestidos, celebração na igreja (nessa época eu ainda era uma boa católica), valsa, cinco quilos a menos de estresse e aquele cerimonial ridículo dizendo que o próximo desafio da minha vida seria o vestibular. Pela culpa, pela tão grande culpa da minha mãe que sonhava que eu tivesse aquilo que ela não teve, ainda que não compartilhássemos o mesmo sonho. Certo, pra não dizer que a culpa sempre sobra pra mãe, mesmo não tendo feito questão de uma festa, também não resisti à idéia. Mas a verdade é que eu preferia ter gasto o dinheiro da festa com um intercâmbio, uma viagem à Europa, algo que enriquecesse meu espírito — e não com fotos e vídeo que eu me recuso terminantemente a ver e mostrar pra quem quer que seja!

Ainda assim, eu posso dizer que eu fiz uma festa, digamos, sem exageros. Porque eu já vi muita, mas muita marmotagem nessas festas. E eu não estou falando da debutante que cai da pontezinha montada em cima da piscina do bufê — mas também, olha que idéia, fazer a menina andar em cima de uma pontezinha estreita com aquele vestidão, pior que isso só aquela prova do Faustão, da ponte do rio que cai. Já vi festa em que os cantores, ao invés de cantar “Você é linda, mais que demais”, diziam “Fulaninha é linda, mais que demais”. Mas o auge mesmo foi a vez que fui convidada pra uma festa com tema japonês. Até aí tudo bem, uma decoração diferente, umas luminárias de papel charmosas... até que aparece a tal da debutante vestida de gueixa! Aquela peruca preta armada, a cara da menina branca e com aquela boquinha de boneca Emília, quimono vermelho e andando com aquele passinho curtinho de japonesa estereotipada. Claro que eu dei vexame com meu incontrolável ataque de riso, mas que nada que não passasse despercebido diante daquela cena medonha. Nessas horas eu fico me perguntando como é que um pai e uma mãe deixam a filha passar por isso, quando não foram mentores intelectuais desse abuso. É muito anacronismo...

Enfim, a minha sorte é que, depois de todo o auê que foi a minha festa — porque, ao contrário das milhares de aniversariantes que tem que passar a festa inteira só batendo foto, eu fui curtir demais — minha mãe disse que não faria festa de casamento pra mim (só mesmo mãe pra ver a vida do filho como uma sucessão de fatos óbvios). Mas aí quem é que bate o pé: meu pai! “Não, porque você fez a festa de casamento do Emanuel (meu irmão mais velho), vai ter que fazer dos outros. E tem que ser em Sobral” — visualizem as minhas feições crispadas diante da última frase. Mas ao menos hoje conto com minha maioridade e um espírito bem menos suscetível para não deixar que a breguice tome mais esse espaço no mundo. Até porque o melhor casamento do qual tive notícia, eu não fui. Minha prima resolveu oficializar a união depois de três anos morando com o marido. O que eles fizeram? Chamaram os respectivos pais, compraram um bolo, chamaram a juíza, puseram uma toalha branca na mesa e pronto! Feito o casamento. Simples, terno, a cara deles e do amor que eles têm. Pra mim não importa o que essas cerimônias devam significar, desde que elas tenham um significado pra quem realmente interessa. E se dá pra fazer isso com um bolo e uma toalha branca, que bom!

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