domingo, janeiro 14, 2007

Eu não sabia o que era amar. Nunca entendi bem os poetas, os romancistas, os músicos e todos aqueles que falam de amor. Por mais que os admirasse, falar de amor sempre me pareceu uma história que não me dizia respeito. Como falar sobre o frescor da relva e o cheiro de terra molhada ao amanhecer para alguém que passou a vida em um apartamento. Por isso muitas vezes, de mim para mim, achei que era incapaz de amar, por mais passional que eu sempre tenha sido. Mas amor não é paixão, que explode e desvanece no alucinante limiar da plenitude e do vazio. Tampouco é o que aparece nas novelas ou o que vejo muitos casais vivendo, pensando ser isso o amor — a não-solidão, ou pelo menos uma “solidão assistida”. Aaaaah! E ainda tive de nascer em um tempo em que tudo parece descartável, perecível, utilitário. Como saber o que é amar quando nem se tem a certeza de que as pessoas ainda são capazes de senti-lo? Sim, porque o amor não é algo universal, necessário, imprescindível... o é somente para aqueles que o sentem.

Aprendi que nem sempre a questão é saber amar, e sim esquecer o que é amar. Acho que foi isso que aconteceu comigo: esqueci que o amor é maior e melhor do que as alternativas que esse mundo nos dá. Ou mesmo que as pessoas nos dão. E agora, olhando para trás, Deus, como amei e fui amada! Porque eu vos digo, o amor está nas coisas simples: está em deitar a cabeça no colo da avó e sentir aquela mão enrugada e ancestral acariciando o seu cabelo. É sentar com sua mãe no chão e aprender a fazer o formato da mão no papel ou perder-se em pensamentos enquanto ela lhe corta as unhas. É pedir para o pai colocá-la nos ombros e se sentir como no topo da montanha mais alta, maior que o mundo inteiro. É sentir o amor nos olhos e nas mãos de um homem, e sentir em você mesma como borboletas a voltear pelo estômago. É estar sozinha, completamente sozinha, e poder ouvir as canções do vento ou apenas o pensamento. É não perguntar o quê, por quê, como, se, posso, devo, cabe. O amor nos percorre, nos habita, nos invade, nos esvai, nos torna esponja, nos torna um, nos faz um mundo. Por nada, por tudo, nós amamos e somos amados.

Mas quando o amor acaba e se ausenta e nos deixa vazios... quando o amor se torna dor, o corpo inteiro grita e se rebela como um animal enjaulado e enfurecido — somente aqueles que já sentiram esse tipo de dor terão a dimensão desta metáfora. A dor se torna tão maior, tão sem fim a ponto de desejar a morte, de querer desesperadamente não sentir, não sentir! Porque é quando dói, mais do que quando se ama, que temos a certeza de que estamos vivos. E que, por um momento, estivemos perto de estar mortos.

Só que depois de um tempo, você descobre que ainda está vivo. O corpo está alquebrado, o coração, em pedaços, mas ainda vivo. A travessia da dor foi feita e ela não foi capaz de te levar. Não há tristeza, não há alegria na vitória: apenas um grande cansaço. E é nessa terra arrasada e deserta que é preciso recomeçar, reaprender a sentir desde as lições mais básicas. Sentir o ar enchendo o corpo, o calor, o frio, o cheiro, o toque, o som, o silêncio, as batidas do coração, as entranhas se movendo, o chão embaixo dos seus pés e, por último, as pessoas ao seu redor. Mas a dor não passa imediatamente. De vez em quando ela volta, de assalto, mas cada dia menos, e menos até que passa um dia inteiro e você se esquece de sofrer.

Se isso tudo é justo, se isso é um castigo ou a prova de que Deus é um sádico manipulador? Acho que esse não é o critério. Ninguém deseja, espontaneamente, sofrer. Mas o homem é um bicho complicado, que só dá o verdadeiro valor às coisas quando não as têm. Mas quem sabe, uma hora dessas, ele acabe aprendendo a cultivar o amor e as pessoas que ama enquanto elas estão ali e nos momentos singelos em que ele se manifesta? Pobre homem, acho que estou sendo demasiado dura com ele. Não é raiva, não, é apenas pena diante dessa fragilidade travestida de indiferença e auto-suficiência. Mas isso passa, tudo passa...

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